19 Jun
19Jun

Graduei-me em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em 1997. No último ano de graduação aconteceu meu encontro com a Educação Popular de Paulo Freire, encontro esse que marcaria significativamente minha trajetória profissional. Em um dos estágios em Saúde Pública desenvolvemos um trabalho de educação em saúde com a população da área de abrangência de uma unidade básica de saúde. Claro, muitas palestras, muitos “assim não é certo”. Ia tudo diretinho...! O problema começou quando, ao realizar visitas domiciliares aos participantes das palestras observamos que as orientações dadas por nós, na maioria das vezes, não haviam sido seguidas, por mais simples e elementares que parecessem ser. Essa experiência trouxe várias indagações e suposições.  Na busca de entender o que ocorrera e encontrar respostas e caminhos, fui parar na biblioteca. Encontrei um livro do professor Eymard Mourão Vasconcelos nas prateleiras, o “Educação Popular nos Serviços de Saúde”. Devorei-o. Esse livro me fez questionar a forma das ações de educação em saúde que havíamos realizado, afinal partimos de temas que nós julgávamos importantes para aquela comunidade, trabalhamos com processos pouco dialógicos e muito mais pautados na transmissão de conhecimento. A partir daí passei a buscar a compreensão de como fazer processos de educação em saúde que de fato transformassem a realidade. E esse caminho está até hoje sendo trilhado...


Consegui o canudo e fui trabalhar em um hospital na cidade de São Paulo, no Hospital Israelita Albert Einstein, lá fiz residência em enfermagem médico-cirúrgica e trabalhei na ortopedia. Uma experiência de uma riqueza imensurável.  Gostava muito de trabalhar no hospital e da valorização que o profissional enfermeiro gozava naquele espaço. Gostei demais da minha versão enfermeira no hospital, da minha capacidade de cuidado, do conhecimento científico aplicado ao raciocínio clínico e de trabalhar educação continuada com a equipe de enfermagem. Mas aquela experiência com a educação em saúde me trazia muitos questionamentos que pediam respostas. Fui buscá-las no mestrado em Saúde Coletiva tentando entender  a adesão das pessoas às medidas de controle não-farmacológicas de controle da hipertensão arterial. Cursei o mestrado na UFMS, conclui-o em 2002. Enquanto cursava o mestrado, trabalhei em uma unidade do Programa de Saúde da Família (PSF), atual Estratégia Saúde da Família (ESF). Apesar da paixão dedicada à Educação Popular em Saúde (EPS) e do conhecimento já adquirido, o meu “fracasso” como enfermeira de uma equipe de PSF em realizar ações de promoção de saúde baseada nos princípios da EPS me fez querer aprofundar ainda mais nesse conhecimento. Durante o tempo que atuava como enfermeira no PSF implantamos vários projetos de educação em saúde que funcionaram muito bem, mas que após minha saída não perduraram. E eu desejava construir processos que de fato mudassem a realidade.  Desejava construir um caminho para organizar o processo de trabalho na ESF visando a reorientação do modelo de atenção à saúde, proposta esta da estratégia saúde da família. A busca de atingir esse objetivo em um doutorado foi inevitável! Cursei o doutorado em Ciências da Saúde (2005-2009), pela Universidade de Brasília. Realizei então uma pesquisa-ação. A pesquisa foi desenvolvida numa ESF de Dourados e buscava analisar as possibilidades e limites de modificar o processo de trabalho a partir dos princípios da EPS (pedagogia crítica) visando a reorientação do modelo de atenção e colaborar para que os avanços do Sistema único de Saúde (SUS) fossem efetivados na prática dos serviços. Foi meu encontro com as primeiras respostas que buscava. E o insight que me ajudou nesse caminho eu tive a partir da leitura do diálogo de Paulo Freire com camponeses no texto Pacientes Impacientes no Caderno de Educação Popular e Saúde do Ministério da Saúde em 2007 onde ele vai conversando dizendo eu aceito que as coisas são assim, mas por que as coisas são assim? provocando a resposta do outro e não a minha explicação da realidade ou do tema. Mudou minha posição e jeito de estar no mundo.


Tenho atuado como docente no ensino superior há vinte anos, iniciando como professora substituta na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e há vinte anos na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul como efetiva. A docência é minha paixão, pois eu a vejo como possibilidade de colaborar para a transformação da realidade, através de formação de profissionais para o SUS. Atuo em disciplinas da graduação em Enfermagem e da pós-graduação  Mestrado Ensino em Saúde sendo: enfermagem em saúde mental e psiquiatria I e II, práticas educativas em saúde, psicologia aplicada à enfermagem I e II, educação  e saúde.  Na pós-graduação da Escola de Saúde Pública Dr. Jorge David Nasser – MS, em nível de especialização, já ministrei disciplinas e conteúdos de planejamento e programação em saúde, Educação Popular, organização e gestão de serviços de saúde, método Paidéia, sistema de informação em saúde e políticas públicas, serviços substitutivos em saúde mental orientando especializandos nos campos da saúde pública, saúde da família e saúde mental.Sou apaixonada e grande defensora do SUS (Sistema Único de Saúde). 


 Atuei como supervisora clínico-institucional  no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), um serviço substitutivo em saúde mental. Foi um edital no Ministério da saúde para apoiar esses dispositivos de mudança. A oportunidade de participar como facilitadora em projetos do PROADI (Ministério da Saúde) junto ao Instituto de Ensino e Pesquisa  do Hospital Sírio-Libanês (IEP/HSL) para formação de trabalhadores de saúde para o SUS com processo educativos com base nas pedagogias ativas e críticas foi a oportunidade de continuar minhas buscas após o doutorado. Assim eu pude cada dia mais estudar, atuar e compreender processos educativos e repensar minha prática docente e repensar processos educativos e continuar encontrando respostas e novas perguntas. Nesse caminho realizei estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFPB. Também fui realizando várias especializações como de processos educacionais, de processo educacionais na saúde com ênfase em aprendizagem significativa,  gestão da clínica nos hospitais do SUS e capacitação de facilitação em metodologias ativas pelo IEP/HSL e  especialização pela UFMS com a Universidade de Toronto de liderança em enfermagem na saúde da família e práticas de Enfermagem avançadas na Atenção Primária em Saúde.


A partir daí coordenei especialização de formação para trabalhadores de saúde numa parceria UEMS, Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco - AC com a OPAS ( Organização Pan-Americana da Saúde) a especialização Ensino em Saúde com ênfase em processos pedagógicos ativos e atualmente coordeno junto com minhas amigas e docentes Ana Marran, Marcia Spessoto e Simone Vidmantas o curso de especialização Vivências Pedagógicas Ativas no Ensino Superior da UEMS voltada para docentes do ensino superior. Também com a chegada da pandemia criamos (minhas amigas docentes da UEMS e eu) um projeto de educação em saúde o Jalecando com Elas!. Um projeto com a proposta de usar  as TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) para apoiar o processo de cuidado e  transformação nesse contexto tão desafiador para a saúde que estamos vivenciando.


A psicologia entra na minha vida por volta dos 18 anos. Eu era muito tímida e cheia de sonhos. Terminei o ensino médio (na época o colegial rs) e queria ao menos uma dez profissões. Só sabia que seria professora e teria doutorado. Do que eu nem imagina ainda! Fui trabalhar por um ano enquanto pensava. Trabalhei no departamento pessoal do Hospital Adventista do Pênfigo nesse um ano, o que foi me aproximando da saúde. E comecei um processo de psicoterapia. Queria trabalhar a timidez e me conhecer mais para escolher a profissão que combinasse mais comigo. E ali nasceu a paixão pela psicoterapia e pela psicologia. Encontrei ressonância da disciplina de enfermagem psiquiátrica na faculdade e ali naquele estágio na graduação comecei minha trajetória em enfermagem em saúde mental e psiquiátrica. Acompanhando estágios nos diversos espaços de atenção à saúde mental, desde a atenção primária ao hospital psiquiátrico. E o desejo de cursar psicologia foi só aumentando, pois na minha perspectiva a psicologia faria uma interface perfeita com meu caminho na educação e na enfermagem. Mas eu havia feito uma escolha no campo educacional e estava na construção da minha carreira acadêmica e não havia espaços para iniciar uma graduação naquele momento. Duas coisas foram decisivas para eu iniciar minha graduação em psicologia. No curso que atuo como docente tinha vaga para um docente psicólogo, mas como a carga horária não era suficiente para preencher 40 horas para um concurso para efetivo. Pensei, vou fazer psicologia para lotar nessa vaga. E na mesma época eu fui submetida como paciente à abordagem EMDR (Eye Movement Dessensitizacion and Reprocessing) para lidar com crises de ansiedade que passei a ter para falar em público e simplesmente fiquei encantada com a abordagem. Saí da terapia e disse: - vou fazer psicologia para trabalhar com EMDR. Na outra semana fui na faculdade saber os caminhos para ingresso no curso de psicologia. Fiz minha graduação na Faculdade Anhanguera de Dourados e me graduei em 2020 em plena pandemia numa formatura online. Concluí minha formação em EMDR e  novas perguntas surgiram. Pensei preciso conhecer (re-conhecer) o funcionamento cerebral para eu fazer melhor a clínica, minha atuação docente, etc. Assim, no momento estou cursando a especialização em  Fronteiras da Neurociências pelo Hospital Israelita Albert Einstein e também de neuropsicologia. Descobri uma nova paixão! Como é a  relação mente, cérebro e corpo? Tenho estudado diariamente sobre o trauma, sobre o eixo intestino-cérebro e realizado cursos no campo de tomada de decisões. O novo mundo que se abriu aos meus olhos me encanta a cada dia e consigo ver como esse novo caminho cruza com a educação e a enfermagem possibilitando um vasto campo de conhecimento, compreensão e ensino.


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